21.3.07

O reencontro



A emoção seria grande. Rever a mulher da sua vida, dois anos depois da separação por motivos profissionais. Depois da relação, que parecia ser perfeita, ser abalada por causa de uma promoção - "maldita promoção", dizia ele - que a levou para outro continente.

Ele, orgulhoso, não quis falar com ela por mais de um ano. Até que na semana anterior, ela escreveu, dizendo que estava voltando. E que queria ele de volta. Não havia orgulho que resistisse a isso. Planejaram tudo por e-mail, durante a semana: ele iria pegá-la no aeroporto, ela iria direto para casa dele e tentariam falar o mínimo possível sobre o que fizeram ou deixaram de fazer nesse hiato de dois anos. Ele concordou, mas voltou a fumar só de imaginar o que ela poderia ter aprontado.

Tinha parado com o cigarro algumas semanas antes da volta dela. Depois da crise de orgulho, veio o sentimento de perda e com isso, a depressão e todos seus efeitos: bebedeiras, perdas de emprego e cigarros, muitos cigarros. Achou um sinal da providência ter resolvido acordar para a vida novamente justo quando ela estava para voltar. E teria continuado sem fumar, a saúde já rateava, se ela não viesse com essa história de "falar o mínimo sobre o que fizeram".

Ele não teria muito pra contar mesmo. Mas ela, linda e tão tipicamente brasileira, no meio de um bando de europeus tarados? Devia ter um monte de histórias - escabrosas - pra contar. Ele tentava parar de imaginar isso, a amava ainda e não tinha sentido ter uma crise de ciúmes pelo que ela fez ou deixou de fazer quando não estavam juntos.

Mas cadê que ele conseguia evitar?

O primeiro sintoma foi voltar a fumar. Isso, na véspera da chegada dela. Não dormiu. Fumou um, dois, três maços. Foi sonado para o aeroporto. E meio bêbado ("já que voltei a fumar", pensou, "não tem mal beber um pouco").

No aeroporto soube que o voo ia atrasar uma hora. Era tudo o que ele não precisava. Por mais que tentasse não pensar no assunto, as cenas não saiam da cabeça dele: ela, mãos branquelas no seu corpo moreno, sotaques estranhos juntos com seus gemidos carioquíssimos. Ódio, nervosismo, vontade de vingar 500 anos de colonização com as próprias mãos.

- Não, pensou, estou ficando maluco!

Foi ao banheiro. Lavou o rosto, molhou os cabelos. Se sentia melhor. Pediu um café caro na lanchonete metida a besta e acendeu um cigarro. Se concentrou nos bons momentos com ela. Nos momentos em que ela era sua. E tudo ficou bem.

É anunciado o pouso do voo que a traria. Ele se dirige ao portão indicado pela bela voz que anuncia os pousos e decolagens. A voz parece a dela. E quando a mulher repete o portão, dessa vez em inglês, ele imagina a mulher que ama falando outro idioma, com outro homem que não ele. Ele sente um aperto no peito, uma dor, a certeza de que não conseguirá viver com isso, por mais que a ame.

Ela aparece no portão. Linda, mais que nunca. Ele tem lágrimas nos olhos, ela tem lágrimas nos olhos. Correm um em direção ao outro. Ele sente a dor mais profunda que jamais sentiu no coração. Quando ela está ao alcance dele, ele dá um tapa no rosto dela. "Puta!", grita, chamando a atenção de todos.

A dor que ele sentiu ao ver a estupefação no rosto da mulher da sua vida foi a maior que ele jamais teve. E a definitiva: teve um ataque cardíaco fulminante.