17.1.02

Chaos


Você acorda um dia com um velho sentado na sua cama. Ele brilha. Antes que você esfregue o sono da cara, ele fala:

– Levanta, infiel! Reverencia teu Deus!!!
– Vai–te a porra!!!

Foi instintivo. Mas porque você ia acreditar num velho que invadiu sua casa? Ainda mais dizendo ser Deus? Só porque ele brilha? Poderia ser alergia a algo que ele comeu.

– Passaste muito tempo na iniquidade, seu blasfemo! É a hora do teu julgamento!
– Queisso, véio?!?! Como você entrou aqui?? Que merda de brilho é esse???
– Esse brilho está acima da sua compreensão, infiel! Levanta!!
– Sai daqui, seu velho maluco!!! Vou chamar a polícia!!!

Impasse formado, você não tinha ideia do que fazer. Os olhos de velho faiscavam de raiva. Você começa ficar extremamente nervoso com a insólita cena. E olha que, apesar de ateu – graças a Deus!, você sempre brincava – você nunca faltou ao respeito com nenhuma espécie de religião. Cada um na sua, ora essa! Mas porque diabos (ops!) Deus em pessoa viria te buscar?

– Porque você é o maior dos ateus! - disse o velho, lendo sua mente - Servirá como exemplo àqueles que não se arrependerem na hora do julgamento. Você não cumpre o primeiro mandamento, o mais importante. Vamos pecador! É tempo de sentir minha cólera sagrada!

Cansado dessa história, você pega o revólver na cabeceira da sua cama e acerta um tiro na testa do velho. Ele cai, estertorando, pra trás.

– Puta merda!!! Foda-se! Legítima defesa… ele invadiu minha casa.

Você liga pra polícia, e avisa que atirou num maluco que invadiu sua casa. Os canas chegam e não encontram nada além do cheiro de pólvora. Corpo, bala, sangue…nada. Você toma um esporro colossal do guardinha que foi até sua casa, que avisa que do mesmo jeito terá que prestar depoimento na DP. Você ouve tudo se achando maluco, achismo que é compartilhado com os policiais, que te acham no mínimo, um drogado. Da pequena aglomeração na porta do seu apartamento, alguém grita: "Nietzsche!!!"

Lá fora, nuvens negras avançam rapidamente no horizonte. Muito rapidamente.

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