15.1.02

Pródigo


Ele voltou em um dia nublado. Ninguém esperava: a casa estava uma bagunça, não tinha uma comida especial pra ele. Como havia dito, ninguém esperava.

Havia saído de casa depois de uma ríspida discussão com o pai. Jurara nunca mais voltar. E quando o pai, não o levando a sério, disse que ele voltaria com o rabo entre as pernas pra pedir dinheiro em dois dias, ele sumiu. Estava fora há seis anos. Ninguém o esperava.

A mãe adorou a volta dele, claro. Choros, abraços, "como você está/por ande andou?" e o que pede a etiqueta do momento. O tempo o tornara um homem. A saudade tornara a mãe uma velha.

Ele não sabia e nem imaginava o que sua ausência havia provocado. A casa em sua memória agora só existia na foto que havia levado. Sua infância de filho único não poderia ter se passado ali. Não naquela casa sépia, como uma foto desbotada.

A mãe contou que a partida dele acabara com a alegria da casa. Disse-lhe que ele era o orgulho dela e do pai. Os dois esperaram ele voltar durante 2 anos. Rezavam em fronte a uma vela toda noite. Desistiram, quando a esperança se apagou. Hoje, a esperança morta é só um pedestal com parafina derretida.

Ele queria ver o pai. Segundo a mãe, o pai era quem mais tinha sofrido. No final, se julgava o único culpado de tudo. Foi definhando. Como a casa, as velas, a esperança. Estava trancado no quarto fazia dois dias.

Ele entrou no quarto, e o pai estava na cama, mais sépia que a casa. Imóvel. O cheiro denunciava o que ele tentara evitar com sua volta apressada. O pai não o esperara.

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