13.1.02

O Chamado


Levara sete anos pra atender o chamado da Cidade. Desde os 12 anos, ouvira falar de tal chamado e não dera a mínima. Todos os seus amigos, de uma forma ou de outra, já tinham atendido ao chamado, que de onde moravam, se ouvia alto e claro. Menos ele.

Morava perto da cidade. Mas o mais longe que tinha levado seu corpo era até a cidade vizinha, vizinha da Cidade. Não era implicância. Simplesmente não tinha motivos para ir. E a Cidade o chamava. Ele, todo ouvidos de mercador.

Ao 19 anos, não que tivesse tomado a decisão, teve que ir à Cidade. E foi. Para atender um pedido dos pais, mais foi. E o chamado da Cidade finalmente bateu forte. Ao ver seus vales de concreto, seu movimento, sua gente, o chamado ribombou em seus ouvidos. Ele precisou ser dominado pela Cidade, absorvido.

Foi o primeiro dos amigos a se mudar para a Cidade. Depois disso, voltou poucas vezes para casa.

***

Foi feliz na Cidade. Criou amigos, cachorros, família. Raízes, como dizem. Ninguém da Cidade poderia dizer que ele viera de outra cidade. Absorvera seus gestos, sua fala, seus movimentos. Na outra cidade, os poucos que se lembravam dele, tinham saudades.

***

Ficara, como todos um dia ficam, velho. A cidade já era seu lar, sua vida. Mas sentia, no fim da sua vida, falta de algo que não conseguia decifrar o que. Sua casa, sua prole, sua vida estava já pronta para serem entregues: já não eram seus. Mas algo ainda faltava. Não era na cidade que escolhera viver que conseguiria suprir essa necessidade.

***

A outra Cidade começou a entoar seu chamado. Levou três anos para atendê-lo.

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