17.1.03

O Desencontro

O Desencontro é uma encruzilhada onde todos sabem chegar, mas lá não há placas. Segue-se o caminho que o viajor decide. Mas ele invariavelmente está errado.

Todos que chegam à Desencontro esperam algum tempo, no meio da rua, por algo que não sabem ao certo o que é. Alguns se preocupam inutilmente com um possível atropelamento, que nunca vai ocorrer. Os carros não passam em Desencontro. Esses, de espírito mais prático, são os que mais sofrem para sair de Desencontro. Deve ter algo a ver com sua fisiologia.

Milhares de pessoas vão todos os dias à Desencontro, mas, misteriosamente, nunca há mais de uma pessoa na sua encruzilhada. Saber o que fazer em Desencontro é algo que se deve fazer só.

Algumas pessoas vão mais de uma vez à Desencontro. Depois de passar por essa experiência nem sempre agradável, eles tentam fazer um mapa de seus caminhos, mentalmente, e fazem diagramas em papeis e os levam consigo, para conseguir achar uma saída rápida. É um trabalho desnecessário. Nunca se sabe a hora exata de ir à Desencontro. E – novamente eles – os de espírito prático, que carregam seus guias amarrados às suas roupas, ao chegar em Desencontro têm uma terrível decepção: suas plantas, relembradas e desenhadas em papel manteiga com tanto cuidado se transformam em desenhos circulares, de muito pouca ou nenhuma utilidade.

Muitos dizem que os caminhos que se seguem à Desencontro são sombrios. Outros dizem que Desencontro leva à uma reta tranquila, com um destino feliz. Cada um acha a melhor maneira de sair de Desencontro.

Mas todos devem ir lá um dia.

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