19.1.04

Tradução



Veio de fora e não dominava nossa língua. As vezes, soltava uma frase surreal.

- Seria legal se você fosse paçoca!

Dificilmente eu seria um derivado do amendoim legal. Perguntei o que ela queria dizer com aquilo.

- Ahn...Não sei certo! Você podia ser menos certinho...anh... "nastyer". Como diz?
- Sapeca, talvez?
- Isso!

Expliquei que mesmo em português essa expressão era de um arcaísmo gritante. Ela ficou sem graça - e linda, toda enrubescida - e perguntou qual seria a melhor palavra para se aplicar nesse caso, no seu inglês também carregado de sotaque e meio capenga pela falta de uso (parece incrível, mas ser norueguesa tem suas desvantagens).

- Hmmm...Você pode me pedir pra ser mais sodomita - provoquei.
- Não é isso! Você está me escaneando!
- Sacaneando...
- Isso! - ela assentiu, feliz por se fazer entender.

A idéia de ser um scanner para ela não me desagradou de todo. Fazer a leitura de cada poro daquela pele alva seria no mínimo um ótimo passatempo. Falei isso com ela em inglês, pra ela não se confundir.

- Em português! Fala em português...por favor...

Nem o mais frio escandinavo bebedor de vodca resistiria a esse pedido. Não com a carinha que ela fez. E o sotaque...Ah, aquele sotaque!

A noite foi pequena pra tudo o que fizemos. Durante a transa, ela pouco falou em português. E eu ainda estou na dúvida se os sons que ela produziu faziam parte de alguma linguagem. Linguagem com gramática, léxico e regras normativas, entendam. O que ela disse era ininteligível, mas fazia todo sentido do mundo naquele momento.

As poucas palavras que eu entendi foram algumas palavras em norueguês que ela disse, em meio ao êxtase. E todas deixavam a expressão "sapeca" em seu devido - e comportado - lugar.

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