25.2.03

Cigarros


Doeu quando percebi que ele se foi. Quando eu notei que ele tinha abandonado um casamento, uma esposa, filhos, um lar. E ele nem se deu ao trabalho de inventar uma desculpa ou teve hombridade de falar na minha cara que nos deixaria. Fui abandonada por um clichê:

- Querida, vou comprar cigarros e já volto!

Ele estava longe de ser um "marido exemplar", mas era o que eu tinha e eu o amava. Era um safado, um boêmio, um péssimo exemplo pras crianças. Mas eu o amava.

Nunca se sabia o que o louco poderia fazer. Ao sair do trabalho ele podia chegar em casa e levar a mim a as crianças prum restaurante ou podia simplesmente não chegar. Era assim. Quando lhe dava na veneta, sumia por dias.

As vezes chegava bêbado em casa. Nessas ocasiões, ele ficava imprevisível. Ou ele me batia sem um motivo aparente ou fazia amor comigo de forma brutal e maravilhosa. Uma coisa eu não posso negar. Ele fazia o que queria comigo, era só tocar nos lugares certos. E ele sabia, ah, como sabia.

E eu sempre me deixava levar pelas suas armadilhas sutis, sempre o perdoava, mesmo depois das brigas, das surras, das discussões na frente das crianças. Se não fosse com seu jeito de criança abandonada, era na cama que conseguia o que queria de mim, inclusive fazer as pazes.

Ele não valia um centavo. Era um cachorro. Mas eu o amava. Não...Eu era viciada nele, nas suas mãos e palavras, no seu olhar. Viciada, não era amor. Amor é algo bom. Quando nos apegamos a um hábito ruim, é um vício...Não era amor, não...Era mais um vício. Livrei-me dele, estou sofrendo, muito, muito mesmo. Todo vício dói para acabar, mas acabar com ele é sempre o melhor a se fazer Eu sou viciada nele, como ele é pelos seus cigarros...Os mesmos cigarros que serviram de desculpa pra me libertar...

Benditos cigarros!


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