5.2.03

Sentidos


Não te escuto, mas me afogo em seus sons. Estou imerso em um labirinto de barulhos discretos que explodem em meu cérebro. Não há outro som no mundo, somente o da sua respiração, sua voz, o ruído dos seus passos.

Não sinto seu cheiro, mas conheço seu odor, como se sempre estivesse dentro de você. Sou parte do seu ventre, como se tivesse vindo do seu próprio útero. Eu não respiro ar, respiro você.

Seu gosto infecta minha boca, minha língua de nada serve, além de sentir seu sabor. Sinto seu paladar com minha boca, e cada poro da sua pele é o que há no mundo para ser provado.

Não existe o toque, mas sua textura é a única coisa tátil para mim. Como um Midas enlouquecido, tudo o que toco se transforma em você. Meu tato é apenas uma extensão do seu corpo.

Meus olhos são cegos: a única visão que me atormenta é a sua imagem. Ela me persegue por caminhos escuros e só encontro um pouso seguro quando encontro sua mão para me guiar. Só posso retribuir com milhares de beijos em braile.

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