17.11.03

Tem vaga



Tem vaga para vivo, mas acabou. Tem vaga para pensante, mas acabou. Tem vaga para pessoas que fazem coisas relevantes. Mas essa acabou faz tempo! Quando você pensa que vai ter vaga para uma coisa que nem seja tão legal assim, como pra suicida em potencial depois de décadas de uma vida medíocre, você se ferra: até para isso, tem vaga, mas acabou.

As vagas para idiotas que não se importam com nada também tinham, mas acabaram. Para idiotas que se importariam com tudo, se entendessem tudo, também. Esqueça as de revoltado impotente. Essas são das primeiras a acabar. Tem vaga para falso niilista. Mas acabou.

Então só te sobra aquele lugar apertado no fundo do ônibus. Lá tem vaga. Você passa pelo coletivo lotado, trombando em outras pessoas que, como você, não acharam vaga para nada. Misteriosamente, ninguém ocupou aquela vaga. Você se senta. Arranjou uma vaga. A vaga de inútil que faz concessões para tudo. Não é das melhores, mas é uma vaga. Essa tem. E não acabou.

A viagem nem começa e aparece uma grávida ao seu lado, cheia de sacolas. Você tem que ceder seu lugar para ela. Ela se senta e tira uma sacola de dentro da camisa. A barriga era falsa e ela ri. Todos riem. Você não faz nada.

Sem comentários: