6.1.07

Ferro de passar



Era uma dessas coisas que só passam pela cabeça dos solteirões de certa idade. Cismou de achar que a sua empregada era boa de cama. Não que fosse do tipo solitário - tinha suas "amigas íntimas" aqui e acolá - mas encasquetou com a ideia de transar com a Marilda.

Marilda nem tinha o tipo físico que mais interessava ao Sérgio. Era baixinha, um pouco acima do peso e, se não era feia, o máximo que poderiam lhe atribuir era uma beleza exótica. Mas cadê que isso era empecilho para o Sérgio?

- Ah...uma mulher que passa a roupa do jeito que ela passa tem mãos de fada! - comentava com os amigos.

Todos achavam graça de mais essa mania do Sérgio. Mas, dessa vez, mesmo que sem ter uma lógica irrefutável e aparente, o argumento dele tinha algo de plausível. Ele nunca tinha visto uma mulher passar tão bem uma camisa. Depois de passar pelas mãos da Marilda, suas camisas sociais, que sempre tinham sido um tormento para suas diaristas anteriores, pareciam que nunca tinha sido dobradas. Era como se o pano tivesse sido medido, cortado, costurado na hora e sem um amassozinho sequer. Era uma coisa de louco.

- Basta eu ver meu armário cheio de cabides que eu fico louco de vontade! - dizia o Sérgio, entre um chope e outro.

Seus amigos riam. Mas Sérgio já havia decidido seduzir Marilda, custasse o que custasse. Ela vinha três vezes na semana. E nos dias seguintes à decisão do apaixonado, ele já agia diferente.

- Deixa que eu te ajudo, Marilda.
- Vou comprar cigarro. Quer algo da rua, Marilda? Um bombom?
- Quer que eu vá montando a tábua de passar?

Apesar dos seus 30 e muitos, Marilda era inocente. Achou engraçado o novo tratamento, mas não desconfiou de nada. Notava que o "seu" Sérgio agora estava sempre por perto, que não saia mais quando ela começava a esfregar o chão e que as vezes ele a olhava de um jeito engraçado. Doidice de patrão, ela estava acostumada.

Até que um dia Sérgio, algumas semanas depois, vendo que ela não seria seduzida por mimos e atenções sutis, partiu para um ataque mais direto: agarrou a Marilda por trás, enquanto ela passava a camisa social que ele mais gostava.

- Que isso, seu Sérgio!?!?!? Me solta!
- Ah, Marilda! Eu não aguento! Você passando minhas camisas fica demais!
- "Seu" Sérgio, me solta! A camisa vai queimar aqui!
- Deixa queimar! Eu já estou aqui pegando fogo!

Os detalhes das cenas seguintes são irrelevantes para a história. O que vale mesmo é saber que Sérgio chegou na mesa do bar, sentou entre os amigos de sempre e pediu um chope. Muito cabisbaixo.

- Mas o que foi, rapaz? Que cara é essa? - perguntou um.
- Ainda não conseguiu levar sua empregada pra cama? - perguntou outro.
- Pelo contrário - respondeu Sérgio - consegui sim.
- E por que a cara de velório, então?
- Tive que demitir a moça.
- Por que?!?! - perguntaram os dois, em uníssono.
- Sabem as mãos de fada que a moça tinha com as minhas camisas?
- Sabemos - disse o primeiro amigo, já ansioso pelo relato - e daí?
- Pois é. Era só com as camisas mesmo. No meu pau ela pegava como quem pega num ferro de passar...

Depois da gargalhada dos dois amigos, um deles pergunta.

- Mas isso é motivo para demitir a coitada?
- Não. Nem foi por isso, não.
- O que foi então?
- Ela queimou minha camisa preferida também.

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