27.3.03

O banho frio


Foi no meio de uma ducha gelada, no meio da madrugada, chegando de mais uma noite de excessos. Sempre escutou a eterna discussão entre os adeptos dos banhos frios e os fãs dos banhos quentes. Nunca tomou partido nessa disputa menor e costumava desconfiar da sanidade dos que tinham esse tipo de preocupação fútil. Ia de acordo com o clima: duchas geladas se está quente; banhos quentes em dias frios.

Mas foi no meio de uma ducha gelada que ele teve o insight. Não sabia se o a água fria havia contraído suas veias ou as dilatado e se isso teria influenciado na corrente sanguínea que ia e voltava do seu cérebro, fazendo com que pensasse melhor; ou se o arrepio que sentiu ao contato com o líquido gelado tinha sido a causa da sua revelação. Preocupou-se com isso, mas por pouco tempo. Era de somenos importância, diante do que aconteceu.

No meio da sua ducha fria, naquele meio de madrugada, ele viu que sua vida descia pelo ralo, junto com a água que lavava seu corpo e ia pelo cano, agora cheia de sujeiras. Desperdiçava sua existência, recurso não-renovável, como um louco. Era como um rio que não encontrava o mar, não sabia qual era seu caminho, uma razão para viver dessa forma. Tinha que encontrar sua nascente e seu fim, nem que esse fim fosse uma foz.

A primeira resolução que tomou foi o de nunca mais tomar banhos quentes.

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