16.12.03

A carne da palavra



A carne da palavra viceja, forte, no terreno da angústia. É quando ela adquire seu melhor aspecto, quando seu preparo traz melhor sabor e suculência. Seu gosto, nessas condições, é acre-doce e permanece por mais tempo em nossas línguas.

Solos tristes alimentam a carne da palavra. São a seara perfeita para suas várias formas florescerem. Suas fibras se tonificam na confusão e na desordem. Esses são seus melhores adubos, seus melhores nutrientes, componentes vitais para a seiva da palavra.

Não esperem que na felicidade e no bem estar a carne da palavra se desenvolva a contento; diante de tais distrações, onde a suas postas ficam acondicionadas, sem respirar, dentro de bolsas de conforto, elas apodrecem. Não que não possam ser usadas em tal situação: a carne da palavra apenas fica mais rija, sem textura, sem sabor.

A carne da palavra se alimenta da fome do homem.

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