17.6.02

A Solidão


Ela surge de repente. E, apesar de ser quem é, vem sempre acompanhada. Ela cobre nossos olhos com sua penumbra espessa, nos impedindo de ver quem quer que seja. É assim que ela age, por mais contraditório que seja: mesmo cercado por pessoas por todos os lados, sua cegueira nos domina.

E quem a acompanha, fiéis escudeiros que são? O desespero, a náusea, a sensação de se estar perdido no mundo. A raiva, a impotência, a inveja. E pior, a tristeza, cruel e fria.

Seu domínio não é permanente, claro. Chega um dia em que, como que acordando de um longo pesadelo, as nuvens não estão mais no horizonte. Algo leve revigora o ar, alterando sua própria essência. Foi-se o manto, tão lépido como surgiu. E é possível até esquecer sua ignóbil companhia.

Até quando? Nunca saberemos. Mas essa eterna fuga para o mais distante possível dos seus vetustos braços é o que nos move, é nosso motor, é o que nos faz erguer a cabeça do travesseiro, todo santo dia. Não temos garantias nem devemos nos enganar com isso. Podemos tanto ter êxitos sucessivos na escapada como podemos ser eternas presas fáceis. Isso faz parte da caçada. O que não podemos nunca é desistir de tentar, se deixar e ir para o abate. Temos de ser eternos revoltados, temos de nos rebelar sempre. Devemos continuar na corrida, porque ela sempre vem célere. E, as vezes, não faz prisioneiros.

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