29.7.02

Narciso e o amor


Mesmo que a expressão "os opostos se atraem" carregue em seu cerne muito de verdade, não podemos deixar de levar em consideração o lado narcisísta do amor. Não existe amor possível sem que o objeto da nossa admiração não nos reflita, por pouco que seja. Temos a necessidade de nos reconhecer no objeto que amamos. Não há amor sem que não nos encontremos no outro, se quando encararmos o lago que ele é, não vejamos nossa própria face.

Se não temos um referencial nosso em quem amamos, o próprio amor se esvai. Narciso sem lago, sem reflexo, o amor onde não nos identificamos é seco, como um espelho d´água vazio. O amor olha para seu leito sedento e não se vê. Morre a míngua, esturricado, língua pra fora implorando por um lugar onde possa mergulhar e cumprir seu destino de afogado.

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