27.5.03

O banquete


Vem. Vem depressa, que o tempo urge. Vem, mas vem logo, que tenho fome.
Sirva a mesa. Vamos nos servir, vamos nos alimentar um ao outro, um do outro. Vamos trocar o gastronômico pelo fisiológico. Nosso apetite é o mesmo. E não há melhor iguaria.

Termos beijos como entrada, seguido de coquetéis de saliva e uma suculenta salada de línguas. Nessa hora, já estaremos com o gosto um do outro em nossas bocas, e esses aperitivos aumentarão a nossa fome, então já estaremos sedentos por provar o resto do banquete.

E famintos, teremos abraços flambados na paixão e carícias com molho picante, que serão consumidos com avidez. E, diferente dos jantares convencionais, quanto mais comemos, com mais fome ficamos. E o prato principal...ah, o prato principal...

Apesar de famintos, nos atiramos a ele com calma. Degustamos cada fração do seu sabor e sentimos exatamente cada gosto, cada cheiro, cada textura com precisão. Não temos pressa, nem podemos dizer quem come – o que ou quem –, pois temos a mesma fome.

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