31.5.03

Pelica


Sou mulher e você se aproveita da minha pressuposta fragilidade.
Você me agride.
Você me fere a cada conquista efêmera sua, tão elaboradas, que só servem para alardear sua colossal empáfia diante dos amigos do seu clã masculino. Você não imagina o quanto isso me mina, como vejo minha vida minguar a cada aventura sua.
Mas você é o homem.
E por isso, você comanda, você manda e desmanda. Você é o senhor de um castelo que deveria ser partilhado e não dominado. Não esperava por esse amor vassalo.
E nas noites em que você dorme em camas desconhecidas e baratas, eu não durmo. Eu não vivo, fico suspensa num labirinto de dúvidas. E mesmo assim, insisto em procurar a saída.
Eu sou mulher.
E tenho a pecha de fraca. Você ignora que fraqueza maior é a sua covardia. Covardia ao me machucar, até fisicamente. Mas eu quero a volta.
Me bater é fácil. Você é o homem, o macho forte que tudo pode, que tudo faz. Mas não quero mais essas derrotas impostas. Quero a chance de lutar. E isso, só você pode me ceder.
Me bata. Mas quero o desafio do revide.

Só me bata com luvas de pelica.

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