12.5.03

Se vira, amigo...


Vai. Agora, se vira. Segue seu caminho sozinho. Tente não depender de ninguém uma vez na sua vida. Desde sua concepção, nunca fez nada com suas próprias pernas. Dependeu daquele espermatozoide que era o único que poderia te formar chegar primeiro naquele óvulo que também estava ali por acaso, pra sua sorte. Nove meses no ventre materno com comida, sombra e água fresca. Mamãe e papai te pajeando até você se achar suficiente esperto para fazer somente o que eles não queriam que você fizesse. E mesmo assim, nessa época em que você se comprazia em trazer o desgosto para aqueles que te davam boa vida, você ainda assim dependia da acolhedora mão de alguém para seguir vivendo.

Para agora de contar com a sorte, sua ou alheia. Chega de desculpas para sua preguiça em ser alguém. Não mais “a questão estava mal formulada”, nem “o emprego não era mesmo tão bom assim” ou “se não fosse a maldita trave”. Se vira. Ganhe da sorte, ganhe do azar, ganhe das macumbas que fazem pra você. Ninguém está dizendo que será fácil. Mas ser alguém que conta é o mínimo que esperam de você.

Esqueça seus “contatos”, seus “pistolões”, suas “dicas quentes”. Seus “apadrinhamentos”, seus “favores devidos”, suas muletas para andar. Uma vez na vida, viva; mas por si, sem dependências. Se vira, amigo...

Se vai valer a pena? A resposta deve ser dada por você mesmo. Ninguém sabe das suas dores e anseios. Pode ser que isso que você chama de “levar a vida”, essa forma preguiçosa de guiar seus passos até seu fim inevitável, lhe seja agradável. Vai muito pela sua cabeça. Mas já que o seu fim vai ser o mesmo de todos, tente fazer com que esse breve intervalo de tempo entre seu parto e seu passamento tenha valido a pena.

Se vira, camarada. Antes que seja tarde. Antes que seja tarde demais. Antes que não seja mais tarde ou cedo demais, apenas inútil.

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