26.6.03

O Chute


Eu chutei essa cidade. Chutei-lhe a boca cheia de dentes perfeitos, chutei seus lábios famosos, deformando-os, imperceptivelmente é verdade, mas a deformidade que lhe deixo é perene.

Assim como sua marca, em mim, é eterna. A cidade me socou o estômago com toda sua força e vigor. Meu chute foi meramente uma reação à sua violência explícita, sua voracidade implacável. O vomito provocado por tão forte golpe deixou exposto o que havia de pior em mim; o que teve de revelador teve de purificante.

Parto agora da cidade e saio agredindo-a. Não há ressentimentos, contudo. Aprendemos sempre, seja da forma mais sutil ou da mais contundente. O chute que desferi em sua face foi por gratidão.

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