28.6.03

Sobre o fogo extinto


Eu queria ter um amor calmo, sem as exigências emocionais que as paixões tórridas trazem, sem os "direitos & deveres" dos relacionamentos passionais, sem o desespero que a ausência causa. Mas me foi impossível. Agora estou morto. Irremediavelmente.

Você se foi. E nosso amor flamejante se extinguiu, para você. O amor é máquina que precisa de combustível para sua fornalha, ou ele se apaga. Em algum momento, você acordou e não viu mais as achas de lenha que alimentavam nossa paixão. Assim que você partiu, me deixou aqui, mero amontoado de cinzas.

Agora eu vivo procurando pelos sinais imperceptíveis da nossa antiga fagulha, catando suas gimbas de cigarro em cinzeiros esquecidos, fazendo de tudo por uma só gota de saliva que tenha saído dos seus lábios. Mas não resta nada. Nem o pó das coisas esturricadas.

Nem o calor das brasas adormecidas.

Agora que o fogo se apagou, não tive nem o privilégio da quietude dos cremados ou a tepidez da paz interior. Apenas troquei a fogueira da paixão pelo inferno da saudade.

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