22.2.02

Conformismo


Considere-se perdido nesse mundo ultra-tecnológico e perca a esperança de ter algum senso de direção pelo menos por enquanto. Não há armas para lutar, não há bússolas, não há guia 4 rodas para caminhos virtuais. Deixar-se levar pela corrente internética é a única opção por ora. Crie seus simulacros, seus personagens seguros, seus portos e tente sobreviver a isso. O mundo mudou, e a cada letra digitada, a cada pixel criado através de extensões dos seus dedos, ele muda, mais e mais. E nunca fomos realmente parte atuante das grandes mudanças. Digo, o homem comum, o que vive o dia-a-dia, o que acorda, trabalha, almoça, trabalha e dorme. Essa é só mais uma revolução onde sua influência é insignificante. Nada demais, nada demais.
Logo eu que tento ser moderno, acordei muito parnasiano hoje.

19.2.02

Cobiça


Começou desejando nascer, ter vida. Nasceu e desejava comida. Chorava por ela. Cresceu, e com isso, cresceram seus desejos: o carrinho do comercial da TV, a maior mesada, a mulher do amigo, um salário melhor. E desejava, e desejava, e desejava. Quanto mais desejava, mais desejava ainda. Desejava, e sua ganância conquistava o objeto. Tinha tudo, era rico, invejado. Desejou viver eternamente. Não pode: foi enterrado num caixão que não desejava.

15.2.02

Orgulho


Vejam como sou inteligente, articulado, divertido. Vejam toda minha erudição nos mais variados assuntos. Vejam como sou interessante, boa praça, bom partido. Vejam todo esplendor das minhas viagens, leituras e audições nas minhas conversas. Olhe bem, eu sou a alma de qualquer festa, o amigo perfeito, companheiro de qualquer hora. Oh, não caro amigo, dileta amiga, não sou perfeito. Minha auto-indulgência me mata!!! É isso mesmo! Sou modesto demais. Isso é ou não é um defeito?

Luxúria


Comercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercom
ercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomerco
mercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomer.

Gula


Comercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercom
ercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomerco
mercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomercomer.

Preguiça


Até porque, se livrar dos seus próprios defeitos, além de ser uma forma de auto-negação, dá um trabalho danado…Deixa isso pra lá.

Cólera


A inveja é o primeiro sinal. Como o semeador de vento, o homem que planta a inveja, só colhe a cólera. A raiva por não ter o que quer e por outros terem. Outros nos quais não se reconhece. O colérico é narcisista. Odeia a diferença. Odeia tudo que não seja seu reflexo.

Eu também odeio.

Odeio muita coisa, aliás. Encheria páginas e páginas com meu ódio. Mas não vou. Meu ódio vai ficar guardado, minando seu veneno. Meus defeitos são minha riqueza. Não me desfaço.

Inveja


Eu invejo os ricos
E suas peles bem tratadas e carros do ano
E casas na Zona Sul
Invejo os inteligentes
Com sua cultura e livros e
Amizades cultas e conversas cultas e
Interessantes
Invejo os que amam
Aqueles amores definitivos
"Não vivo sem você", "Você me completa" e
"Faço tudo por você"
Também invejo os felizes
Que nem são inteligentes
– como ser feliz num mundo como esse?–
Mas carregam aquele insuportável sorriso na cara
E a felicidade mais estúpida do mundo
O que me faz invejar os ignorantes
Invejo os sem-caráter,
Que com seu cinismo, sabem tirar o melhor
Para eles

Cá estou, falível e pecador.
Invejando até quem inveja algo que preste

14.2.02

Mais dia, menos dia…


Como se se tratasse de respirar
Como se se tratasse de aspirar
Algo
Como se se tratasse de criar
Como se se tratasse de abortar
Algo

Você não perde por esperar…

7.2.02

Volta


Nem toda volta é triunfal
Nem toda volta é esfuziante
Nem toda volta merece tapete vermelho, recepção para mil convidados, cobertura da imprensa

Mas toda volta representa uma conquista
Estar vivo após uma partida é uma conquista
A coragem da volta é maior que a da partida

Todos partem do mesmo ventre
E voltam para um mesmo ventre

Nada

Acordara com a mente vazia, mas tão vazia que nem disso tinha se dado conta. Somente abrira os olhos. E nada. Suas funções vitais iam, mas não precisamos pensar para isso, certo?

Estava na cama. Mas poderia estar em qualquer lugar. Aliás…estaria mesmo na cama? Não sabia dizer. Até porque, não teve essa dúvida. Não tinha dúvida nenhuma.

O que fazer? Havia algo? Queria algo? Não sabia.

Pode parecer abrupto, mas esse é o fim da história. Ficara o resto dos seus dias da mesma forma: imóvel.

Não saberia precisar quanto fora o "resto dos seus dias". E também não se preocupava com isso.
Morrera há tempo e não sabia.

30.1.02

Recesso


Este é meu verdadeiro lugar
É de onde eu vim
E pertenço a esse espaço

Não quero o banal
Não aqui
Nunca aqui

Eu não desisti

25.1.02

Resposta ao Sr. do Alto


Textos sem adaptação para o novo meio = um labirinto longo e sinuoso, onde se pode chegar à sua saída, mas com grandes possibilidades de andar muito mais e sem necessidade. Isso se houver uma saída.

Hipertexto = ainda um labirinto. Menor, menos sinuoso e, apesar de seus vários caminhos alternativos, existe a certeza de uma saída. E ainda te dão uma bússola.

O labirinto textual é um passatempo de jornal, onde a resposta vem no dia seguinte: quem guardará o labirinto para o dia seguinte?

O labirinto hipertextual é um passatempo de jornal, mas sua resposta vem na mesma edição: basta ser esperto e virar o jornal de cabeça para baixo.

23.1.02

Coleta seletiva


Estou novamente chafurdando em informação. Não se acham pérolas para os porcos midiáticos. No meio de toneladas de textos unidos por sublinhados, os porcos modernos só conseguem se perder em um labirinto de lixo. Acharam que o ciberespaço seria um bênção. E é, mas não para os porcos conectados: não há bússola hipertextual para eles.

22.1.02

Interzona

Eu criei esta armadura
Com minhas próprias mãos e suor
E controlo meu castelo
Nesse espaço

A energia que consumo
Passa por essas sinapses inchadas
De informação
E caos

O terreno do meu castelo é alto

20.1.02

Pintando o 7


Fazer arte
É fazer bagunça

Cavernas


É estranho pensar que um homem das cavernas possa ser mais evoluído, em qualquer âmbito, que eu. Mas quando vejo alguns desenhos rupestres, isso fica claro: eu não tenho a habilidade deles para desenhar. Alguns deles são muito bem feitos.

E claro que não é a sua habilidade com as mãos e as tintas que o torna uma pessoa evoluída. É incrível pensar que uma pessoa que mal dominava o fogo possa ter a inspiração para a arte; Alguém que precisa caçar pro seu sustento ter o espírito para desenvolver um senso estético é algo espantoso. O impulso criador que o anima é o mesmo de um Rafael, um Botticeli, um Mondrian. O valor de sua arte é o mesmo.

17.1.02

Chaos


Você acorda um dia com um velho sentado na sua cama. Ele brilha. Antes que você esfregue o sono da cara, ele fala:

– Levanta, infiel! Reverencia teu Deus!!!
– Vai–te a porra!!!

Foi instintivo. Mas porque você ia acreditar num velho que invadiu sua casa? Ainda mais dizendo ser Deus? Só porque ele brilha? Poderia ser alergia a algo que ele comeu.

– Passaste muito tempo na iniquidade, seu blasfemo! É a hora do teu julgamento!
– Queisso, véio?!?! Como você entrou aqui?? Que merda de brilho é esse???
– Esse brilho está acima da sua compreensão, infiel! Levanta!!
– Sai daqui, seu velho maluco!!! Vou chamar a polícia!!!

Impasse formado, você não tinha ideia do que fazer. Os olhos de velho faiscavam de raiva. Você começa ficar extremamente nervoso com a insólita cena. E olha que, apesar de ateu – graças a Deus!, você sempre brincava – você nunca faltou ao respeito com nenhuma espécie de religião. Cada um na sua, ora essa! Mas porque diabos (ops!) Deus em pessoa viria te buscar?

– Porque você é o maior dos ateus! - disse o velho, lendo sua mente - Servirá como exemplo àqueles que não se arrependerem na hora do julgamento. Você não cumpre o primeiro mandamento, o mais importante. Vamos pecador! É tempo de sentir minha cólera sagrada!

Cansado dessa história, você pega o revólver na cabeceira da sua cama e acerta um tiro na testa do velho. Ele cai, estertorando, pra trás.

– Puta merda!!! Foda-se! Legítima defesa… ele invadiu minha casa.

Você liga pra polícia, e avisa que atirou num maluco que invadiu sua casa. Os canas chegam e não encontram nada além do cheiro de pólvora. Corpo, bala, sangue…nada. Você toma um esporro colossal do guardinha que foi até sua casa, que avisa que do mesmo jeito terá que prestar depoimento na DP. Você ouve tudo se achando maluco, achismo que é compartilhado com os policiais, que te acham no mínimo, um drogado. Da pequena aglomeração na porta do seu apartamento, alguém grita: "Nietzsche!!!"

Lá fora, nuvens negras avançam rapidamente no horizonte. Muito rapidamente.

16.1.02

Caostrofobia



Aquantidadeabsurdadeimagensquebombardeiasuamentepodeestarsemvocêsaberteinduzindoafazercoisasquenaoquercriarhábitosque
nuncateria.Mensagenssubliminarescortamossinaisderádioetvevocênãopodefazernadaarespeitoanãoserevitaroqueháderuimnosmeiosde
comunicação.

15.1.02

Pródigo


Ele voltou em um dia nublado. Ninguém esperava: a casa estava uma bagunça, não tinha uma comida especial pra ele. Como havia dito, ninguém esperava.

Havia saído de casa depois de uma ríspida discussão com o pai. Jurara nunca mais voltar. E quando o pai, não o levando a sério, disse que ele voltaria com o rabo entre as pernas pra pedir dinheiro em dois dias, ele sumiu. Estava fora há seis anos. Ninguém o esperava.

A mãe adorou a volta dele, claro. Choros, abraços, "como você está/por ande andou?" e o que pede a etiqueta do momento. O tempo o tornara um homem. A saudade tornara a mãe uma velha.

Ele não sabia e nem imaginava o que sua ausência havia provocado. A casa em sua memória agora só existia na foto que havia levado. Sua infância de filho único não poderia ter se passado ali. Não naquela casa sépia, como uma foto desbotada.

A mãe contou que a partida dele acabara com a alegria da casa. Disse-lhe que ele era o orgulho dela e do pai. Os dois esperaram ele voltar durante 2 anos. Rezavam em fronte a uma vela toda noite. Desistiram, quando a esperança se apagou. Hoje, a esperança morta é só um pedestal com parafina derretida.

Ele queria ver o pai. Segundo a mãe, o pai era quem mais tinha sofrido. No final, se julgava o único culpado de tudo. Foi definhando. Como a casa, as velas, a esperança. Estava trancado no quarto fazia dois dias.

Ele entrou no quarto, e o pai estava na cama, mais sépia que a casa. Imóvel. O cheiro denunciava o que ele tentara evitar com sua volta apressada. O pai não o esperara.

14.1.02

Gente séria tem me tirado do sério...

Tempos Modernos

A angústia de quem escrevia antigamente era mais tátil.
Não sai nada?
Ou nada que sai presta?
Ao lixo com a folha
Externava-se a raiva, abria-se a válvula de escape
As vezes, surgia o assunto tão esperado
Mas e hoje?
A angústia é a mesma…Mas
Como amassar essa folha virtual na minha frente?
Como rasgar um monitor?
Ele nem cabe na lixeira…
Quem gosta de frases edificantes é mestre de obras…

13.1.02

O Chamado


Levara sete anos pra atender o chamado da Cidade. Desde os 12 anos, ouvira falar de tal chamado e não dera a mínima. Todos os seus amigos, de uma forma ou de outra, já tinham atendido ao chamado, que de onde moravam, se ouvia alto e claro. Menos ele.

Morava perto da cidade. Mas o mais longe que tinha levado seu corpo era até a cidade vizinha, vizinha da Cidade. Não era implicância. Simplesmente não tinha motivos para ir. E a Cidade o chamava. Ele, todo ouvidos de mercador.

Ao 19 anos, não que tivesse tomado a decisão, teve que ir à Cidade. E foi. Para atender um pedido dos pais, mais foi. E o chamado da Cidade finalmente bateu forte. Ao ver seus vales de concreto, seu movimento, sua gente, o chamado ribombou em seus ouvidos. Ele precisou ser dominado pela Cidade, absorvido.

Foi o primeiro dos amigos a se mudar para a Cidade. Depois disso, voltou poucas vezes para casa.

***

Foi feliz na Cidade. Criou amigos, cachorros, família. Raízes, como dizem. Ninguém da Cidade poderia dizer que ele viera de outra cidade. Absorvera seus gestos, sua fala, seus movimentos. Na outra cidade, os poucos que se lembravam dele, tinham saudades.

***

Ficara, como todos um dia ficam, velho. A cidade já era seu lar, sua vida. Mas sentia, no fim da sua vida, falta de algo que não conseguia decifrar o que. Sua casa, sua prole, sua vida estava já pronta para serem entregues: já não eram seus. Mas algo ainda faltava. Não era na cidade que escolhera viver que conseguiria suprir essa necessidade.

***

A outra Cidade começou a entoar seu chamado. Levou três anos para atendê-lo.

11.1.02

Autocrítica


Qualquer pessoa que escreve algo para outra ou outros, sem que essa ou esses lhe peçam, sem que se receba por isso, sem ter algo edificante pra falar ou é uma pessoa insuportavelmente convencida ou incrivelmente estúpida. Ninguém dá a mínima pro que você acha do último livro que leu, filme que viu, cd que comprou ou dvd que alugou. Ninguém perguntou sua opinião sobre o que outra pessoa com seus mesmos defeitos escreveu em outro lugar, com a mesma intenção que você, ou sobre o que tem acontecido na Argentina ou sobre a seleção brasileira de futebol. E ninguém, NINGUÉM mesmo, quer ouvir suas críticas sobre o que quer que seja. Afinal de contas, quem é você pra criticar alguém ou alguma coisa? Você é uma pessoa que gasta seu tempo (in)útil – que parece ser grande, aliás – escrevendo baboseiras ao vento como se fossem recados para posteridade. No que isso pode te dar crédito?

Deficiente


Não sei porque...às vezes tenho a impressão que fiquei em recuperação no teste do pezinho...

10.1.02

Teoria do pensamento aleatório

Capítulo 6

Um hábito salutar é cortar com tesoura as conversas. Pegue os recortes, atire pro alto, e cada interloucutor pega o que conseguir. Por alguns momentos, a conversa quedará sem sentido. O fluxo de idéias, assim que restabelecido, tornará o papo mais fluente. O caleidoscópio oral criado poderá ser exposto em alguma galeria de arte.

Amortizados


Eu vi um homem morto essa manhã
Embrulhado pra presente, em seu papel amarelo
E não senti nada
Estava deitado em um ponto de ônibos
até concorrido]
E os transeuntes, como eu, nada sentiram
Quase lhe pediam licença
– Meu ônibus chegou, saia do caminho –
E não olhavam para trás

O rabecão que o levou
Não cobrou vale–transporte

7.1.02

Virtual

Vamos evoluir
Como vírus que se adaptam
Às adversidades
Vamos nos unir
Em conexões que se façam
Na interatividade
Redes neurais vão ruir
Sob o peso das memórias RAM
E dos córtex de alta velocidade

E o pensamento, antes único, será um só
E pensamento coletivo, de cada ser só
Vai ser livre em sua individualidade
Vai ser único em sua una liberdade

4.1.02

Conclusão


O inferno são os outros
De boas intenções, o inferno está cheio
E o inferno é aqui

Das boas intenções
Dos outros
Já estou por aqui

3.1.02

nonsense


As boas coisas dessa estrada fértil garantem, hoje, indivíduos já leves. Melhores níveis operacionais permitem que respire sem trabalho: uma vida xilográfica, zen.

2.1.02

Teoria do pensamento aleatório

capítulo 5

Se meus pensamentos todos coubessem nesse copo vazio aqui na frente (é um copo grande: cerca de 400 ml), o resultado seria uma mistura heterôgenea, sem a menor uniformidade. Fragmentar, podemos dizer caleidoscopicamente.

Não sei até que ponto a culpa de se ter sempre uma cadeia de pensamentos randômica é desse padrão de vida caótico em que vivemos. Até aí, também, isso não importa muito. O que não podemos fazer ao analisar essa questão é esquecer que desde o começo das nossas vidas, sempre tivemos uma ligação muito próxima com o caos. Para sermos o que somos, tivemos que vencer milhares de espermatozoides e todos tinham a mesma chance de fecundação.

Ano novo


O ano novo não vai te trazer nada de novo. Os dias continuarão tendo 24 horas e as semanas sete dias.

Suas funções biológicas serão as mesmas: você vai continuar morrendo e vivendo pelos mesmos motivos.

As pessoas também não mudarão, apesar de todas as promessas feitas.

E por pior que isso possa parecer, não é pessimismo. É uma simples constatação feita através da observação continuada desse evento chamado cotidiano.

Caostrofobia


OvirtualnãoseopõeaorealesimaoatualOvitualéoqueviráoupotencialmentevirácriandoumarealidadequenãoestámaisquepoderáestarÉumreal
diferentecomoutrosignificadoeoutromomentodeexplosão.orealéopossiveleovirtualéumarespostaaoatualsendoseutotaldesemelhante.

27.12.01

Caos




Você repara em seu relógio que é quase a hora de ir embora. O dia foi atribulado no trabalho. Apesar de ser aquela eterna rotina, hoje a rotina foi maior. Pilhas e pilhas de vias e 2as vias para rubricar e carimbar, telefonemas para atender e clientes para receber. Nada fora do normal em uma vida tediosa. Extremamente tediosa. Seus braços doem tanto que você desejaria uma amputação rápida: pelo menos ia parar de sentir esse incômodo. Pra variar, você é o último da repartição a sair e deve faltar pouco para o faxineiro aparecer para limpar a área. Esse é o sinal de que você deve ir embora, pegar o carro, fazer o trajeto trabalho–casa, tomar um banho de 5 minutos, comer um lanche sozinho e desmaiar na cama, para estar disposto para o recomeço de tudo. Daí acontece uma coisa rara, que é você pensar na inutilidade da sua vida, na completa irrelevância que a sua existencia representa para os outros…para você mesmo…e inclusive para sua empresa. No seu trabalho, você nada mais é que um carimbador–rubricador–telefonista–recepcionista autômato. Uma máquina, um objeto.

No meio desses pensamentos, você nota que não sente mais dor nos braços. Aliás, nada mais doi no seu corpo. Um relaxamento nunca obtido antes toma você completamente, e você chega a agradecer por isso. Você está quase feliz – quase…afinal de contas, você nem sabe mais o que é ser feliz mesmo – quando vê chegar o faxineiro. Você quase inveja o trabalho dele, andando por todas as salas, mudando um pouco seus horizontes. Quase o inveja, porque nem isso você sente mais. Você tenta se levantar e – surpresa! – não consegue. Tenta se mover e nada responde. Pernas, braços, cabeça…imóveis. Você tenta gritar, mas não consegue…

O faxineiro se aproxima da sua mesa. Molha o pano no detergente e começa a passar na sua mesa…depois disso, começa a passar na sua cabeça. Na maior naturalidade.

Evolução


Na escala evolutiva, o homem é menos de 1% mais evoluído que um macaco...O vírus HIV, se compararmos o primeiro isolado em pesquisas com o último, evoluiu cerca de 14%...

Onde está sua empáfia agora, Homo Sapiens??

Deus


Não há uma prova sequer de que Deus dê a mínima para os mortais.

Exaltar seu próprio poder e criatividade já seria uma ótima razão pra Ele criar o universo; Nada impede a Deus de ter orgulho: quem O recriminaria?

Esqueçam o fato do homem se achar o único ser pensante do universo. Achar que somos Sua máxima criação é a maior pretensão da humanidade.

Já é um fato comprovado que vulcões e terremotos e maremotos e furacões são armas terroristas de Deus.

O ato de transformar o verão no inverno, é uma forma de Deus aplicar a caostrofobia na vida cotidiana.

Para Deus, não há limpeza étnica: quando Ele mata, mata indiscriminadamente, sem se importar com a raça de quem morre.

Se Deus permitiu a evolução, fica provado que a humanidade é apenas um estágio imperfeito do que estar por vir; Ou sua criação máxima é mesmo a árvore.

No sétimo dia, Ele não descansou.

Tudo/Nada


Para falar sobre o tudo
Esvazie sua mente
Até não sobrar nada
Esteja oco, vazio,
Seja a própria definição do vácuo
O vazio leva à plenitude
Por mais contraditório
Que isso possa parecer
Há uma tênue fronteira entre
O tudo e o nada:
Cruzá-la é fácil
Difícil é se equilibrar em sua margem

21.12.01

A coisa



Uma conjunção de enzimas que passam por suas sinapses. Euforia, excitação, adrenalina passando pelo seu sangue, algo físico, biológico. Mutações corpóreas imperceptíveis ocorrem. Misture a isso a concepção cultural que se faz do termo. Visões românticas e idealizadas. Nada disso revela seu eterno mistério. É algo indefinível, incomensurável. O objetivo principal da vida, força motriz de tudo, elemento básico da busca incessante dos homens pela felicidade. Nem mesmo as metáforas o definem. Poetas e filósofos tentam em vão, desde tempos imemoriais. Resta apenas deixar-se envolver, se afogar nele, sem restrições, sem limites. Se não, não é ele. Quando ele chega não há mais nada: sua amplitude é infinita. Não há coordenadas, mapas ou algo que guie no meio de seus caminhos tortuosos. E sua maior dádiva é justamente essa: a oportunidade de se perder para sempre, não achar sua saída.

20.12.01

Caostrofobia

Estáticainterferênciasinaldecodificaçãomodemparabólicasredemundialdecomputadoresworldwidewebdadosinformaçãodígitossequencial
linguagemcrpitografiahackersenhassenhassenhasbitsbytshardwareprogramascrackscomutadoresemuladoreshomepageinternetmultimidia
midiamidiamidiacristallíquidotecnologiafibraóticatransistoresresitênciaresistênciaresistência

19.12.01

Teoria do pensamento aleatório

capítulo 4

Bêbado, numa mesa de bar, entorpecido, mente embotada, o raciocínio em outro plano permite que a roda de amigos flane por assuntos em forma randômica. A livre associação de idéias permite a conversa fragmentada, como um quebra–cabeças. Brainstorm sem razão, sem objetivo além da própria comunicação. Uma anti–metalinguagem, por não se explicar, pelo contrário, confundir mais sua própria definição. O ato físico de se exprimir é a força motriz do ato. Alcoól etílico, THC, outras substâncias inindentificáveis, a serviço exclusivo do cérebro, cordas vocais, boca, língua. A linguagem se basta e se completa, podendo quase ser chamada de linguagem poética. Estado provocado por indução fortuita, raramente acontecendo sem isso.

Escolha


Entre ser uma sátira ou ser sério, prefiro ser um sátiro...
Será que de tudo o que falamos, algo é REALMENTE relevante? O que torna algo falado, escrito, ou até mais, qualquer ato que façamos, importante? Fazer o próximo feliz, pagar impostos e respeitar a lei, ser caridoso...Será que é disso que é feita a vida? Isso que lhe confere importância? Hmmm...tenho minhas dúvidas. Será mesmo que Deus (ou seja lá o que for que tenha nos colocado nessa) teve esse trabalho todo só pra isso?

Sabe aquele gosto de "qual o sentido da vida?" que de vez em quando sentimos na boca? Ele insiste em ser meio amargo pra mim....

18.12.01

Engraçado

Quanto mais me pedem juízo, mais próximo fico do juizado...

Emblema


Pense duas vezes antes de agir
Reaja duas vezes antes de pensar
Aja duas vezes antes de ousar
Agite antes de usar

Incurável


Muitos se preocupam com o câncer
E até têm razão, claro!
DST, depressão, artrite,
AIDS, Alcoolismo, até mau hálito
Por que ninguém se preocupa com a chatice?
Já é um mal endêmico, epidêmico, gravíssimo.
E o pior: não tem cura...

17.12.01

Caos


Passeando pela rua, você acha estranho o silêncio da cidade. Mas ele dura pouco. Você ouve, não sabe se dentro da sua cabeça ou não, alguém gritar "AÇÃO!". Segundos depois, os sons da cidade voltam com força total. Mas você não ouve as buzinas, sirenes e gritos com os quais está acostumado. Ouve sim uma orquestra ensudedoramente alta, no estilo Glenn Miller. Não há tempo pra você se recuperar do choque: as pessoas à sua volta começam a rodar, subir em carros, saltar…estão todos dançando. É difícil de acreditar, mas sua vida se tornou um musical!

Quando você já pensa que pior não pode ficar, aparece sua namorada…Ela também está cantando e dançando, e vem na sua direção. Só que você não sabe dançar…e sua voz é horrível.

14.12.01

Re–Invenção


Chico construiu uma realidade
Que já existia, menos aos olhos lacaios
Desse cotidiano
Quanto a mim, prefiro na verdade
Re–inventar o que não foi criado
Tirar do ar coisas, como um deus subalterno,
Assim, como quem descria algo,
Manoeldebarrosmente

Nostalgia


Não se prenda em absoluto ao passado
Do que serve?
São grilhões que te prendem
As cadeiras do balanço
No parquinho
Não te servem mais….

Teoria do pensamento aleatório

capítulo 3

- Não considere nenhuma música com mais de 2:42 minutos boa;
- A destruição dos dogmas deve ser um desejo primal, carnal quase;
- Crie seu próprio senso de realidade: emuladores são um bom caminho para isso
- Sobretudo: CRIE SEUS PRÓPRIOS DOGMAS

Caostrofobia


ComopodeMcLuhamestarcertonãosintoessetecladocomoumaextensãodomeucorponemquerosentirissoécomoseoquemefazescreverfos
seminhasmãosmasnãoééessamenteclaostrófabadetantocaosessecérebrocongestionadoporinformaçãonãoimportaseessetecladomulti
plicaminhavelocidadeoqueimportaéalgoalémdaspalavrasatééoquetocaatessituradoassuntoéoquehádeescondidodesubentendidooqueé
conotativo.

13.12.01

Caos




Você acorda, pra variar, às oito da noite, com a cabeça ribombando, as mãos trêmulas e ásperas, um gosto de cabo de guarda–chuva na boca e uma cara que não tem coragem de encarar no espelho. É, você está numa ressaca braba e o que te deprime mais é que ainda é quarta. Você levanta sem ter ideia do que fez na noite passada e só tem certeza de que está em casa por causa do cheiro: uma mistura de roupas sujas de meses, cigarro barato e comida chinesa azeda. O seu catre – aquilo não podia ser chamado de cama – ainda tem umas manchas avermelhadas que você não tem coragem encostar pra tentar identificar o que é. "Ô, vidinha de merda!!!" é o primeiro pensamento coerente que sai da sua cabeça. Você já não lembra qual foi a última vez que viu sua mãe, seu pai ou seus irmãos…aliás, nem lembra há quanto tempo não vê o sol!

Sem a menor paciência pra ficar analisando o porque dessa desistência de levar uma vida decente, você resolve tomar um banho. Isso, claro se você achar uma toalha no meio de tanto lixo. Uma peça de roupa limpa, isso você desistiu de procurar há semanas. Enquanto vai pro banheiro, só uma palavra pulsa em sua mente, como as doloridas veias do seu cérebro: Angélica.

Desde que ela partiu, com aquele sujeito estranho, sua vida acabou. Você tem impresso ainda no seu corpo o último segundo de sua existência, aquela mordida que levou de Angélica, no momento do gozo. Foi a melhor trepada que vocês dois já tiveram, e foi a última. Depois disso, pra que viver? Nem cuidou da mordida, que infeccionou e virou uma chaga purulenta que demorou a sarar (demorou? Quanto tempo faz isso tudo?). A última visão da sua vida foi Angélica partindo, de mãos dadas com aquele sujeito estranho, que você não sabia de onde havia surgido.

Sua pós–vida tem sido estranha. Você não se lembra do que faz a noite, mas com certeza são coisas extenuantes, dado o cansaço com que desmaia no catre. Mas isso é o de menos. Você não lembra de ter tido uma refeição sequer depois de…chega! Não lembrar mais do que faz lhe deixa mais angustiado ainda.

Finalmente você entra no banheiro, tendo o cuidado de abrir o armário para não ver sua repulsiva cara no espelho…Bom, você imagina que esteja repulsiva, pois nem se lembra quando foi que viu o próprio rosto. Você deixa a água quente cair no seu corpo, que estremece diante desse primeiro contato. Vem o relaxamento do corpo, mas não o da mente. O que tem feito te preocupa, mas o que você vai fazer hoje te preocupa mais, agora.

Saindo do banho, você toma a decisão de se alimentar. Do pouco que se digna a olhar do seu corpo, não há nada que te agrade. Você está branco como uma vela e magro como um palito de fósforo. Mesmo sem fome, você vai até a geladeira.

A geladeira conseguia feder mais que seu quarto. Olhando pra uma caixa de leite (que, pelo cheiro, veio com um pedaço de carne podre dentro), você tem uma vaga noção do tempo que deixou de viver. A validade de três anos atrás é algo assustador, ainda mais quando é no momento em que você consegue, finalmente, lembrar de algo. Essa caixa de leite quem trouxe foi a Angélica, na última noite, na última mordida, na última foda que tiveram….

Antes que comece a divagar de novo, você tenta reordenar seus pensamentos. Você sabia que não comia há algum tempo, mas um jejum de três anos é uma total impossibilidade. Dificilmente também teria um lapso tão grande de memória. A confusão começa a ficar total na sua mente…Se ao menos fosse dia, você poderia ia a praia, tomar uma água de coco…O sol…Há quanto tempo você não vê o sol? Há quanto tempo…

Você olha pro lençol no seu catre e corre para pegá-lo. Cheira a mancha, coagulada e asqueirosa. Um cheiro que você conhece e – incrível – lhe desperta o apetite.

A verdade começa a te esbofetear a cara, mas você custa a acreditar…Não, não pode ser…Não a Angélica…Aquele sujeito estranho…a mordida…o sol…Você corre até o banheiro, fecha o armário…E se vê no espelho. Nada.

Antes de desmaiar, um pensamento: "Meus dentes sempre foram tão grandes assim?"

Cadê?


Cadê o sol que tava aqui
Ainda agora me queimando a cabeça
Me transformando em geléia, lentamente?

Agora, só a água da chuva

Eu, hein...
Esse sol tem andado
Muito temporamental....

Procura-se


Perdi minha poesia por aí....
Não sei se foi num ônibus lotado
Ou em uma fila de banco
Ou na sala do gerente, pedindo um aumento....

Quem encontrar, favor devolver no primeiro botequim
Paga-se a recompensa em cervejas

11.12.01

Caos


Você está a um passo do parapeito de um prédio, o mais alto da cidade, na dúvida entre o suicídio e uma terapia de choque. O pensamento que passa na sua cabeça é de que o pulo vai doer mais, mas vai ser de uma vez: só se esborracha uma vez. E o eletrochoque? Sabe-se lá quantos choques se leva até dar um jeito numa mente problemática?

E agora? A liberdade do salto ou a prisão de uma camisa de força? A torcida na rua já escolheu seu lado – pula, pula!!! – mas se essa não é, finalmente, uma decisão que você tem que tomar sozinho, poucas outras aparecerão. Você decide ficar de vez no parapeito. É mais fresco.
A torcida está na final de um campeonato, irada e incontrolável. Todos querem ver o espetáculo, o seu espetáculo. Essa é sua chance de ser o protagonsta de algo, já que nem da sua vida você o foi, sequer por um dia.

Discargas elétricas passam pelos seus neurônios, deixam você corado como se (será possível?) estivesse envergonhado de algo. Não…não agora…não no seu momento….

– OHHHHHH!!!! (a torcida, como um coro)
– PLAFT…(Você, como uma bexiga cheia d´água, como um ovo, caindo do 14º andar)

Agora, há apenas uma mancha na calçada.

Verão


Eu vi o sol me olhar de soslaio hoje
Me via suando, subindo a rua.
Acho que o filho da puta ria...

Teoria do pensamento aleatório

capítulo 2

Pegue uma dessas palavras que não saem da sua cabeça e a quebre em 738 frações iguais de pensamento;
Transforme cada uma dessas frações em mantras interiores, repetindo-as exaustivamente;
Novas palavras se formarão;
Cada palavra, um pensamento;
Cada pensamento, uma enxaqueca...

Intransigência


Me recuso terminantemente a falar qualquer coisa que preste.

10.12.01

A nódoa


Hoje um cara vomitou dentro do metrô, na minha frente. Os respingos nodosos incomodaram muitas pessoas, principalmente o sujeito que foi borrifado com bile alheia. Péssimo maneira de começar o dia: tomar um banho com comida semi–digerida. De qualquer forma, não esperei o odor tomar conta do vagão. Saí e fui para o imediatamente anterior.

Ninguém ajudou o cara. Ninguem perguntou se ele estava bem. Eu não fugi. Estava no vagão errado, só isso. A escada que eu deveria pegar na estação em que deveria descer ficava defronte à última porta do outro vagão.

A bile, o respingo e odor não deveriam pertencer a minha história. Foi um erro.

Teoria do pensamento aleatório

capítulo 1

nadanadanadanandanadanadanadanadanadanadanadanadanada
nada de nada
De nada
Obrigado!!

9.12.01

Caos


Você está em um zoológico e começa a suar com o calor do dia. Mas você nota algo estranho no seu suor, ele está espesso. Você sente suas roupas grudadas no corpo como nunca sentira antes e percebe que está exalando um forte odor doce. "É mel!!!", você constata, perplexo. Você começa a divagar sobre que vantagens pode tirar desse fato estranho, principalmente no Programa do Gugu e com as mulheres....
Você nem percebe e entra na jaula dos ursos....

7.12.01

Souza (sinal da) Cruz


O fogo leva o papel
O vento leva a cinza
A fumaça me leva a saúde

Tão normal...

Caostrofobia


Vocêsesentesufocadopelaquantidadeabsurdadeinformaçãoquevocêrecebetododianãoaguentamaisessecaleidoscópiodeimagensterríveis
queabarrotamseucérebroemartelamsuassinapsescomoquenãoteimportaevocênãopodeevitaressamaréquetedragaetearremessaparasprof
undesasdessemundocaóticovocênãodistinguemaisocertoporqueoerradopredominanessasimagensassassinatoroubomorteestuproguerran
ãohámaiscomorespirar.
SHUFLLE!!!!!
E se o que você ler aqui ficar na sua mente?
Como uma impressão digital minha, indelével, irremovível...

Não vai dar pra recauchutar depois....

Caos


Você acorda de manhã e percebe que todos no mundo se transformaram em baratas, menos você. Você se transformou numa lata de Rodasol com 1,80 de altura...

Mastigophora


O que será?
O que virá?
O que fora?
Tudo mastigophora...

Morte


Ontem eu matei uma vespa com um pisão. Hoje a primeira coisa que eu vi foi um gato - filhote ainda, coitado - estertorando. Tinha sido pisado por um carro....

Aparentemente, não há uma conexão.... só o fato de que, para morte aparecer e esmagar sua cabeça, basta estar vivo... e ter algum pé por perto.

Literatura caótica

É assim que é...Aguarde turbulências durante a viagem...
Nada sério, tudo de sério, pedantismo e auto autosuficiência.
Neologismos e velhologismos
Sobretudo, o desconhecido.....