13.8.02

Esfínge


Nunca esperei que isso fosse acontecer comigo, conosco aliás. Te encontrei – ou terá sido o contrário – tão casualmente. Acho que, no final das contas, são esses tipos de encontro que são os definitivos. Ou não, se analisarmos nosso momento agora.

Você fala, fala, e não diz nada. Sim/não, ser/não ser…Você não se decide. Talvez esse seja seu problema. Talvez esse seja o nosso problema.

Não me venha com essa dialética. Você está usando minhas armas, como sempre. O problema é que você é melhor com elas que eu mesmo. Eu me entrego sempre, esse é meu verdadeiro mal. E fui logo me entregar pra você, com seus mistérios, seus encantos escondidos…

Ah…sua verborragia me cansa, sabia?

Lá vem você com seus vocábulos guardados para nossas discussões. Não faça pose para mim. Sei da sua inteligência, sei o quanto você é esclarecida. Sei também que isso só realça seus segredos. Você é minha esfinge. Eu não te decifrei e agora você me devora. O mal é que não sou digerível: por isso você me vomita.

Não sou sua esfinge, amor. Não tenho segredos, nunca os tive. Sou transparente. Em momento algum te desafiei com meus mistérios inexistentes; nunca te ameacei com meu apetite. Não sou antropófaga. Não te devoro, nem física, nem psicologicamente. Se você foi vomitado? De certa forma, posso até concordar com isso. Você é indigesto.

Tudo bem. Nada de mitos para justificar o fim. Descobrimos agora onde errei, onde erramos. Você não tem estômago.


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