22.8.02

Silêncio


Acordou no silêncio do seu quarto. Estava escuro. Seu relógio-despertador-digital-de-última-gereção, que sempre acabava com o melhor do seu sono não estava funcionando. Não sabia que horas eram, se era dia ou noite. Se sentia estranho. Há quanto tempo estava dormindo? Horas? Dias? Semanas? Não sabia. Não se lembrava sequer como havia chegado ao seu quarto. Aliás, seria esse mesmo o seu quarto?

O breu era tão denso que poderia ser cortado com uma navalha. Só o movimento de suas pálpebras denunciava que estava acordado e com os olhos abertos. A escuridão era total. Pensou, rindo, que talvez estivesse em um buraco negro, onde até a luz era atraída. Pensando melhor, viu que nada tinha de engraçado na sua situação, que no fim das contas, ele nem sabia qual era.

Abriu os braços, tentando encontrar algo que pudesse tocar. Nada. Estendeu até onde pode seus membros e não sentiu nada. Nenhuma parede, nenhum móvel, nenhum objeto por perto. Decididamente não estava no seu quarto. Tentou levantar, tirando primeiro as pernas da cama. Não sentiu o chão. Esticou suas pernas e mesmo assim seus pés só tocaram o vazio. O desespero se abateu sobre ele. Não poderia estar flutuando. Ou poderia?

Aguçou o ouvido. Nada. Nem um ruído. Mesmo que estivesse nos recantos mais ermos da cidade onde morava, não ficaria sem ouvir o eterno murmurar da metrópole. Onde diabos estaria? O que havia acontecido afinal de contas? Tentou achar alguma coisa na cama onde estava. Se virou e foi aí que percebeu. Estava, decididamente, encostado em alguma superfície. Mas não saberia definí-la: seus contornos, sua densidade, sua área. Não sabia se era macia ou dura. Sua cabeça latejava.

Não sabendo o que fazer, teve a atitude normal nas pessoas à beira do desespero. Ele gritou. E da sua atormentada garganta, só saiu o silêncio.

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