10.9.02

Línguas


Então eu dou um beijo nessa boca e minha íngua invade sua boca e a sua língua invade a minha boca e assim vai, língua na língua, numa fala sem palavra, porque não precisamos de palavras nessa hora. E a volúpia das bocas e línguas nem precisa tomar conta dos nossos corpos atados, o beijo em si se basta e toda a volúpia cabe nesse espaço onde as duas línguas se cruzam. Sentimos o gosto um do outro e esse gosto é o mais saboroso que se pode provar.Dente, céu da boca, lábios, tudo fundido de uma forma única, tato e paladar, sentidos agora sem plural, uma sensação só, que desejamos nunca se separem, que esse momento não se acabe nunca.

Mas acaba.

E sua língua rollingstoneana começa a soltar palavras, como se essa fosse sua premissa básica, com se ela não tivesse sido criada para qualquer outra função, como se não soubesse fazer outra coisa. A torrente de sons e fonemas afoga nossos ouvidos, convidando a audição antes intrusa em nossa confraria de dois sentidos, sublimando com a urgência com que as ondas sonoras se propagam da sua boca tudo o que havia de volúpia.

Maldita é essa língua agora. Maldita é a língua que fala.

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