12.4.03

Liberdade


A história de Dininho não era diferente da história de tantos outros. Filho de família humilde, morador de favela, más companhias. Réu primário, condenado a cumprir pena de 2 anos.

Era um bom rapaz. Como dizem foi “mal orientado”. Era daqueles que se arrependem e que não têm a intenção de voltar para cadeia depois que conseguisse a liberdade. Dininho tinha a intenção de pagar sua “dívida com a sociedade”, apesar de não saber como cobrar a dívida que a sociedade tinha com ele. Sabia as regras do jogo e ia segui-las.

Então, faltando três meses para o fim da sua pena, estourou a rebelião no presídio. Os presos fizeram reféns, criminosos mais influentes mataram seus rivais, houve fogo nas celas Dininho foi poupado. Era sangue bom, não tinha problemas com ninguém.

Os rebelados conseguiram expulsar os carcereiros e quebrar as pesadas portas gradeadas dos corredores do presídio. Sem os guardas e antes do batalhão de choque chegar, era a chance perfeita para fugir. Muito foram. Dininho parou, em frente do último portão da cadeia, escancarado, com vários detentos correndo por ele. Estava a um passo da liberdade. Ou seria a um passo do regresso? Sua pena estava no fim. Se fosse pego, não seria mais primário e quando voltasse pra gaiola sabe lá quanto tempo ficaria por lá.

–Você não vem, Dininho?

O chamado das ruas, o vento fresco que não tomava há mais de um ano e até a vontade de mandar a sociedade tomar no cu eram apelos muito fortes. Mas não. Virou as costas e voltou para sua cela. No meio do caos que se encontrava, estava até feliz. Fez o certo.

Ainda estava no caminho da sua cela quando a polícia chegou, pra variar, atirando. Uma bala acertou Dininho pelas costas. Não conseguiu nem chegar a enfermaria. No fim das contas, de uma forma cruel, conseguiu sua liberdade.

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